sábado, 2 de outubro de 2010

Novo livro de Alice Ruiz.

Alice Ruiz lançou nesta sexta (01/10) em São Paulo o seu livro "Jardim de Haijin" pela Editora Iluminuras.

Os primeiros textos de Alice Ruiz S que me chamaram a atenção já eram haikais.

Eram traduções do poeta japonês Issa Kobayashi, mas acima de tudo soluções que me pareciam mais

sintéticas que as originais. Por exemplo: “vaga aqui / lume ali / o vaga-lume”. Isso foi há mais de duas décadas. De lá para cá conheci melhor a pessoa, a letrista e a poeta incansável que extrai poesia até da página em branco: “página / que não dá poema / dá pena”.

Alice vê o haikai como um exercício fundamental para que o poeta saia de si e se concentre no mundo. Menos reflexão e mais apreensão. Menos sentimento e mais observação. O decurso do tempo cede lugar à percepção instantânea e palpável, como se pode ver aqui mesmo: “paineira na chegada / ainda mais florida / no dia da saída”.

Neste jardim de Alice as palavras precisam se despojar dos sentidos acumulados ao longo da História para refazer a experiência humana a partir de um olhar inédito. Surge então o diálogo direto com as crianças, seres que não fazem o menor esforço para dispor desse mesmo olhar.

E nasce uma espécie de gramática do jardim. Flores, folhas e árvores são substantivos. Vento é verbo. Chuva também. São eles que mobilizam a cena: “vento forte / sementes caem / folhas voam”. Toda criança capta essas funções mesmo que não conheça seus nomes.

Algumas vezes Alice expira para depois (se) inspirar. Primeiro, esvazia a imagem, reduz sua extensão (“noite estrelada / atrás do portão / última flor”), em seguida, recupera-as com toda plenitude e abrangência (“manhã de primavera / para todas as flores / dia de estreia”). Retira para depois adicionar. Forja a debilidade para mostrar o vigor. É também dessa respiração que vive a poesia.

A matéria-prima deste livro não é a natureza. Tal palavra nem aparece nos poemas aqui transcritos. Sua vastidão impessoal seria abstrata demais para caber no haikai. O ponto de partida é o jardim, uma composição de elementos naturais emoldurada pela escrita da artista em perfeita sintonia com as ilustrações de Fê.

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