Francisco Cunha Pereira Filho, uma vida pelas causas paranaenses.
em 1985, o Dr. Francisco iniciou na então TV Paranaense, Canal 12, a série Bicho do Paraná, que durou 10 anos, sendo a mais longa campanha veiculada por uma emissora de TV. A série Bicho do Paraná tinha como objetivo mostrar o talento e a força do paranaense.
Francisco Cunha Pereira Filho nasceu em Curitiba, em 7 de dezembro de 1926. Ele era filho do desembargador Francisco Cunha Pereira e de Julinda Ferreira da Cunha Pereira. Foi casado com Terezinha Döring Cunha Pereira e é pai de Francisco Cunha Pereira Neto, Guilherme Döring Cunha Pereira, Ana Amélia Cunha Pereira Filizola e Cristina Cunha Pereira.
Francisco Cunha Pereira Filho estudou no Grupo Escolar Barão do Rio Branco e no Colégio Santa Maria.
Formou-se em Direito no ano de 1949, tendo atuado no Diretório Central de Estudantes. Era o ocupante da cadeira de número 18 da Academia Paranaense de Letras, sucedendo Manoel de Lacerda Pinto, em 1974.
De acordo com minibiografia veiculada pela Academia, Pereira lecionou na Universidade do Paraná como catedrático interino, nas cadeiras de Ciências das Finanças, Direito Internacional privado e Previdência Social, entre outros. Atuou no Tribunal do Júri e fez carreira como criminalista.
Ainda no campo do Direito, militou na OAB, seccional do Paraná, tendo sido presidente do Instituto dos Advogados do Paraná. Em 1962, assumiu a direção do jornal Gazeta do Povo e, tempos depois, da TV Paranaense, canal 12, firmando-se como empresário do campo das comunicações.
São célebres as campanhas que defendeu à frente dos veículos de comunicação, como a dos royalties de Itaipu, Gasoduto, Usina do Xisto de São Mateus do Sul, entre outras. Estima-se que tenha capitaneado cerca de 20 campanhas em mais de 40 anos de jornalismo.
Recentemente, Pereira foi o ganhador ganhador da edição 2007 do troféu Guerreiro do Paraná. O prêmio, criado em 2001 pelo Movimento Pró-Paraná, homenageia figuras que tenham contribuído para o progresso do estado. Mas, já com a saúde debilitada, não pôde comparecer à cerimônia de entrega. Foi representado pelos filhos Ana Amélia, Guilherme e Cristina. Na ocasião, um documentário foi exibido contando um pouco de sua história.
Campanhas que mudaram a história do Paraná
Não se sabe ao certo quando e qual foi a primeira campanha criada por Francisco Cunha Pereira Filho, mas é provável que ele tenha se iniciado na “arte da guerra” ainda na mocidade, quando cursava Direito na Universidade do Paraná. Foi em meados da década de 40.
Tudo teria começado com um debate acadêmico sobre a necessidade de fundar ginásios gratuitos para crianças e adolescentes pobres. Não ficou só na conversa. Em pouco tempo, nascia a Campanha Nacional de Educandários da Comunidade, projeto que abriu diversas escolas de Curitiba no horário noturno.
Se a cronologia estiver correta, em 60 anos de vida pública essa foi a primeira de uma série de ações desenvolvidas por Cunha Pereira em prol da educação. Não foi sua única bandeira. Ao lado da defesa do ensino, tomou a dianteira em ações de combate à miséria e ao desemprego, assim como iniciativas para lograr o desenvolvimento econômico e alavancar a representação política do Paraná. O ser e estar em campanha se tornou uma marca tão forte que ficou impossível descolar sua imagem, por exemplo, da do homem que defendeu com braço forte o recebimento dos royalties de Itaipu ou a exploração do xisto em São Mateus do Sul.
Mas ao mesmo tempo em que armava campanhas de fôlego – que lhe consumiriam anos, os nervos e inúmeras páginas de jornal – também era hábil em ações muito simples, com duração de um mês e efeito de uma vida. Pediu a seus leitores, certa ocasião, que comprassem plantas para dar de presente de Natal; em outra, que juntassem o lixo das praias e, mais de uma vez, que distribuíssem alimentos. Sugeriu até que criassem postos de trabalho, como fez debaixo do tocante slogan “Abra uma vaga em seu coração. Empregue pelo menos mais um”, em plena recessão dos anos 80.
Recado dado, retirava-se e dava início a nova empreitada. Feito ali, feito acolá, calcula-se que tenha promovido algo próximo de 30 campanhas, uma média incrível de uma a cada dois anos de sua trajetória de advogado e jornalista, antecipando-se a crises como a do gás e ao caos aéreo. Para esta edição de homenagem foram recuperados 18 capítulos dessa história – entre pequenas e grandes iniciativas. Impossível esconder o pesar diante de ausências como a campanha para aumentar contingente eleitoral do Paraná para 1 milhão de votos e a campanha pela alfabetização. De ambas sobraram poucos registros.
Também está ausente desta edição o Arenito Caiuá, que tanto beneficiou o Noroeste do estado. E algumas ações em prol da sociedade do conhecimento. Cunha Pereira, por exemplo, subiu nas tribunas para pedir a criação do câmpus tecnológico de Itaipu e que não fosse abandonado o projeto Tecpar, na CIC. Também foi mentor de projetos curiosos, como o que sugeria, didaticamente, a entronização da Bandeira Nacional nas salas de aula; e a popularíssima Bicho do Paraná, uma parceria da TV Paranaense com o extinto Bamerindus feita para valorizar os talentos da terra. A música de João Belo - “eu não sou gato de Ipanema, sou Bicho do Paraná” - virou hit.
Boa parte do êxito das campanhas se devia ao estilo inconfundível de Cunha Pereira. Seu modus operandi bem poderia ser descrito assim: ao iniciar uma nova empreitada, escolhia sempre o melhor lugar para lançá-la, como uma universidade, ou um centro do poder, como a Assembléia Legislativa.
Ao receber adesões de políticos, estudiosos e empresários, registrava-as nas páginas do jornal, comprometendo o apoiador a levar até o fim a palavra dada ao público. A prática tinha também um segundo efeito – homens do poder e afins, naturalmente responsáveis pelas grandes questões do estado – podiam não aderir. Mas bem que ficavam desconfortáveis com a omissão. As campanhas, afinal, eram conduzidas com a mesma empolgação trazida por Cunha Pereira dos tempos de juventude, quando dirigiu o diretório acadêmico do curso de Direito da UFPR.
Não era tudo. Além de saber o lugar, a hora e as parcerias certas para abrir campanha era preciso despertar o interesse dos leitores. Não poucos podiam julgar que energia, industrialização, pontes e estradas de ferro eram assuntos para governantes e não para gente comum. Para tanto, nada como palavras capaz de empolgar a população. Para dar tempero aos projetos encampados pelo jornal, Cunha Pereira os popularizava com expressões como “Maldição do nevoeiro” – no caso da falta de equipamentos no Aeroporto Afonso Pena -; “Poço da discórdia” – a propósito do petróleo dividido com Santa Catarina no Mar Territorial; ou “Holanda às avessas” - jargão que tão bem definiu o estupor diante de um Paraná alagado pelas hidrelétricas.
A esse segredo somava outro, infalível – mais de uma vez assumiu ele mesmo a frente de batalha, dando uma cara e uma voz ao projeto. Nessas ocasiões, era apontado nas ruas, cumprimentado por populares, abordado nas bancas de jornal e nos cafés da Rua XV, espaços onde as bandeiras que defendia viravam o prato do dia.
Tanto empenho tinha seu preço. Além de sustentar as campanhas anos a fio em seus veículos – sob o risco de não vê-las realizadas ou de cansar leitores mais imediatistas – fazia-se presente nos grandes debates da sociedade, como cidadão e homem de imprensa. Da mesma forma, sem cerimônia, podia se negar a participar de algum evento cuja natureza fosse contrária aos interesses do estado. Não foram poucas as recusas.
Morreu, às 23h55 de quarta-feira 18 de Março de 2009, vítima de uma parada cardiorrespiratória, em Curitiba.
Marcadores: Francisco Cunha Pereira Filho, in memoriam, Jornalismo
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